Antes de mais agradeço-lhe desde já a visita que indirectamente me faz neste meu espaço que pretendo que venha a ser de todos. A intenção foi já revelada. Ambiciono trazer dezenas; centenas, milhares ou...dois ou três leitores de toda a proveniência para lhes dar um conto,como que se fossem eles próprios uma folha numa árvore. Obrigado.
...e para mais alguém.
sábado
Um Conto para Si - Parte V
Nganupe ouvia os argumentos da tribo protestando lá fora e sentia o pronunciado e cauteloso silêncio de Bandu que não se manifestava por receio de não saber achar na mente forma de responder à turba acalorada. Entretanto nos braços da jovem deitada a Ngwami descansava serenamente ,alheia ao além abraço de uma mãe ausente de alma . Ma´wa estava de pé em guarda, escutando também os outros que prosseguiam na batalha de palavras e razões. Mas a velha mulher reagia consciente ao comando natural de uma matriarca que impunha-lhe a vontade mor de resguardar a descendência independentemente do grau, enquanto procurava discernir por entre os gritos qualquer ameaça na intenção de quem os soltava na voz e preocupada tentava atribuir-lhes uma proveniência na forma de um rosto que pudesse reconhecer por entre todos os rostos com que lidou toda a vida.
"- Matem-na! "
Ma´wa virou-se incrédula para a filha vincadamente oposta ao que ela manifestara friamente num grito abafado pelo cansaço e avançou para mais perto da filha tirana que soltava a angústia pela boca.
" - Matem-na ! " - novamente pediu aos outros lá fora, desta forma mais aguda e sonante alarmando a velha . Ma´wa reagiu como que se o grito de ordem de Nganupe lhe viesse cobrar um novo filho e para salvaguardar essa falsa e indirecta nascença apertou os braços longos e esguios em torno da face e dos lábios da filha que resistia a esse aperto do corpo envelhecido da mãe aflita. Nganupe apesar da convalescência de um parto era jovem e robusta , ao contrario da mãe que já não estava tão adornada de vida e juventude, embora fosse mesmo assim reconhecida pela sua força e carácter. Era uma verdadeira leoa ! E que agora em bom fim de investida dominava a garganta da filha, conquistando a continuidade do silêncio dentro da palhota . Depois de a acalmar pegou novamente na Ngwami e colocou-a nos braços de Nganupe contrariada em receber o fardo imposto e dorminte. A jovem mãe continuou o pranto com o rosto molhado de onde as lágrimas caiam e vinham dar ao chão e retomou a moribunda explanação da infame sorte que teve .Pelo lamento manso reconheceu a aceitação à vontade da velha mãe em aceitar a filha branca e não mais falou, a gritaria lá de fora tomou-lhe o lugar da tristeza que apregoava momentos antes.
Continua....
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Emocionei-me imenso, muito forte...
ResponderEliminarMuito Bom!...Gostei imenso!...Aguardo expectante a continuação.
ResponderEliminarLena , em breve : "Um Conto para Si" parte VI . Obrigado por lerem . Estou-vos grato.
ResponderEliminarUm conto excelente, ainda não li tudo mas até agora estou a gostar muito.
ResponderEliminarFantástico! Como sempre teu: intenso. Dá-nos mais.
ResponderEliminar"(...) a gritaria lá de fora tomou-lhe o lugar da tristeza que apregoava momentos antes."
ResponderEliminarQuantas e quantas vezes o ruído impede a reflexão.