...e para mais alguém.

segunda-feira

O Conto - Parte I


          Numa qualquer planície de África quando o sol laranja e púrpura já se deitava no horizonte dormente e seco deixando a crueldade  nocturna das matas surgir , um choro suado de uma negra fazia-se ouvir entre os tão diversos sons da fauna local misturados com um ar agora fresco que transportava o cheiro encarnado da terra às escuras que se fazia denunciar apenas pelo cândido resquício de luz . E em algures , como que perdida naquela planície , uma fogueira resistia à ligeira brisa que se levantava e lançava-se numa dança de faúlhas  errantes no suave caos da aragem . De uma palhota feita de barro ramagens e troncos achados naquela árida planura vinham os sons de mulheres,  reunidas num concílio ancestral de auxílio a uma parturiente,  que se ouviam  mais concretamente em rezas, danças acompanhadas do ruído  natural  da desordem de quem em grupo familiar aguarda a chegada de uma vida de sabe-se  lá onde.... do outro lado do cá talvez .
   Lá fora sob a abóbada nocturna salpicada de pontos cintilantes os homens permaneciam serenos numa roda , onde por entre a solenidade da ocasião surgiam conversas desconcertantemente banais. Talvez seja um truque da natureza humana fazer troça directa ou indirecta das angústias, como que se aquelas trocas de frases  redundantes e de ocasião desafiassem sem temor as próximas horas  ou  servissem de pausa ao desassossego de quem teme  a morte naquela exibição parida do ciclo da vida
 O lume fazia as sombras dos homens manifestarem-se nos contornos da palhota do parto parecendo que elas mesmo eram  um fogo mudo e apagado numa mística aparição,  unindo a vida estéril das sombras dos homens à iminência de um nascimento enquanto alguns cães passavam ignorantes ao espírito expectante da tribo e faziam de acordo com o que o quotidiano reclamava , prosseguindo por entre os jovens e crianças ainda afastadas da responsabilidade de admitir as obrigações dos mais velhos. E brincavam os mais novos tão vivos como a magnífica noite que celebravam em tal teatro ruidoso da madeira ardente , de  risos e latidos , submetidos porém à grave aflição de uma mulher , que quase morrendo queria fazer nascer.


 Continua....

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